O Autista, uma esponja ambiental #04
- Renata Batisttuzzi
- 5 de nov. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 11 de nov. de 2024

Então temos um ser extremamente sensível a interferências externas. Por vezes, a "agressividade" dada como característica do autismo, é na realidade uma consequência, de uma maior sensibilização do todo absorvido a sua volta. As interferências externas causam dor física, por conta de uma sensibilidade sensorial aguçada e aliando o descompasso entre o pensar e falar, somado a dor no sentir o tempo todo, faz com que a fala seja ou atropelada ou exteriorizada em forma de agressividade, porque é a única forma encontrada de se comunicar. É como se o autista usasse o corpo, que ele não controla, pra se comunicar. Práticas como mutismo seletivo (comum em meninas autistas), automutilação, estereotipias e se jogar no chão, são consequências fisiológicas do autista, não comportamental.
Essa forma diferente do cérebro funcionar, perceber e sentir as coisas, é o Espectro Autista, com toda a ampla gama de características genéticas e sensibilidades sensoriais microscópicas. Não é uma doença. Não há nem certo nem errado aqui.
É uma configuração de ser, altamente complexa, mergulhada em distintas formas de se comportar, o que nos faz um diferente do outro, como qualquer ser humano do planeta Terra. Cada combinação genética gera a ampla gama de características daquele autista. Claro, o que nos coloca no espectro é o mesmo conjunto de especificidades, mas cada indivíduo é distinto um do outro. O mesmo serve para os desafios e facilidades de cada um, com uma percepção de mundo diferente.
O autista é como uma esponja, ele vai absorvendo tudo o que acontece com ele e a volta dele. Todas as interferências sensoriais são sentidas. Por ser portador de grande memória, tudo o que lhe é dito é guardado, de bom e de ruim, por anos. Todos os comportamentos que não entendemos, não gostamos e principalmente adjetivos que nos são dados, ficam represados aqui dentro. Podemos ficar indignados com uma fala, devido ao nosso alto senso de justiça e ainda assim, não conseguimos nos pronunciar.
Ou seja, tudo é absorvido, e não é drenado. E esta esponja vai carregando, carregando, e quando começa a pingar já estamos em processo de desregulagem e quando transborda, já virou crise. E isso acontece em segundos. É muito comum o espantamento das pessoas, diante de uma crise de um autista, elas dizem: "ele entrou em crise do nada". Não, foi de todo o muito que ele já absorveu ao longo dos dias, para culminar na crise, que é uma válvula para aliviar a pressão de dentro dele.
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